Quando acabou a música, ou melhor, quando reacenderam as luzes depois, ele botou a mão no coração e disse assim: “Eu quase não sei mais tocar violão, mas agora vocês cantando… foi tão bonito…”
Quando voltou a tocar, percebi que a mão dele estava tremendo. Me veio um monte de coisa no coração. Não era vontade de chorar. Era como uma trava na garganta, como se uma mão estivesse apertando ali com os dedos, e apoiando com a palma por dentro do peito. O ar assobiava para chegar no pulmão. Era o tempo passando.
Eu tinha chegado às 17 horas para conseguir um lugar bem na frente do palco. Quando saí de casa, me jurei que seria a última vez que faria isso. Estou cansade de admirar tanto esses cantores de outra época, de sentir saudade de um tempo que não vivi. Mas também não podia deixar passar um show desses, gratuito, ao ar livre, na abertura do carnaval, com uma programação incrível e dezenas de convidades que dificilmente eu teria outra oportunidade de ver ao vivo. Afinal, a primeira parte da noite, um verdadeiro desfile de artistas cantando músicas mal ensaiadas, acabou sendo meio caótica: aquela coisa de querer colocar gente demais em cena, nem sempre dá certo. Agora, quando entrou o Caetano no palco vazio, assim, despojado, mudou o tom. Acho que aquele aperto que me deu foi geral. De ver ele ali, tão fininho, tão gigante ao mesmo tempo. Tão belo. Volte e meia, ele esboçava um passo de frevo, mas parava em seguida e olhava o público com ar de deboche: vocês achavam o quê?!
Pois, o Caetano não vai mais dançar como antes. O Caetano tem oitenta anos – e não só ele.
A sua voz (ainda intocada), a sua presença serena, a sua história e seu legado, são o que nos resta a agradecer.
O resto é o que nos cabe inventar.