Tá difícil, né? Estou tentando, mas tá difícil. Difícil seguir adiante. Difícil resgatar alguma alegria, alguma vontade de abraçar a vida, alguma esperança no fundo do coração.
Depois de um ano 2023 devastador, entrei em 2024 com sentimento de alívio, comemorando o fim simbólico do que foi um inferno de péssimas notícias. Só não sabia que havia uma ainda pendente. A gota d’água que se fez esperar para cair geladona no estômago. Como não se identificar? Julieta tinha mais ou menos a minha idade, era uma viajante de muita experiência, não de cair na primeira armadilha. Tínhamos amigxs em comum, andamos nos mesmos meios e espaços, enfim… era daquele rolê de artistas de rua, mochileiros “malucos”, e pessoas que traçam suas trilhas com criatividade e ousadia, por fora dos caminhos mapeados pela sociedade. Parte de mim fica com vontade de agarrar a bike agora e sair pedalando para qualquer lugar. Em resposta ao medo, à violência, ao óbvio. E porque sou meio do contra, às vezes.
Outra parte está destruidA.
Porque tá difícil. Difícil apagar as luzes, à noite. Difícil dormir. Difícil não se assustar com qualquer barulho da rua. Difícil pedalar sem chorar, ainda rezando para não ser atropelada por um carro – pois tem isso também.
Tento levar pro racional. Sei muito bem que essas notícias são exceções – se não fossem, não interessavam a mídia. Não podemos generalizar. O normal de uma viagem é NÃO morrer! É sim fazer encontros inesquecíveis, ter uma galera te ajudando toda hora, voltar vivA e feliz. Só que também não dá para simplesmente pensar que aquilo foi um caso isolado e que está tudo bem.
Não está tudo bem.
Tento fechar os olhos e lembro de todas vezes em que me disseram, em qualquer lugar do mundo, que era perigoso viajar sozinhA. E fico com raiva. Porque sempre me dá raiva quando os babacas acertam o tiro sem saber de nada. Por informação, são 4 feminicídios por dia no Brasil, sendo que a maioria acontece dentro de casa. Ficar presA nunca foi solução.
A verdade é que nunca estamos sozinhAs na estrada. Não digo isso apenas pela quantidade de encontros que surgem diariamente. Mas é que tem muita gente viajando junto conosco. Acompanhando, de longe ou de perto, cuidando, sonhando junto. Se tem uma coisa fortalecedora nessa história, é essa comoção e mobilização nacional que está acontecendo por Julieta. Não ressuscita nenhumA mortA mas é a prova de que esse conceito de “viajar só” não passa de uma ilusão de ótica. Na verdade, somos muitAs.
E continuaremos.
Por Julieta
Por todas las hermanas viajeras, nomadas, artistas y artesanas,
Por todas as pessoas que nos inspiram, nos apoiam e nos guiam nessas estradas.
#julietapresente
#parasemprejujuba